Finalmente ela disse que tinha alguém. Ele se interessou e quis saber quem era o cara. Ela começou a contar meio no detalhe. Sandy. Um apelido idiota, melhor chamá-lo de Sam, pensou. Um cara muito simples mas também muito sexy, tinha a idéia equivocada de que era ingênua e pensava demais antes de dizer-lhe alguma coisa, escolhia as palavras. Irritante. Quando falaram sobre livros, ele lhe dissera que gostava de auto ajuda, não foi esse o termo que usou, mas resultava na em uma merda do tipo. Ficou com raiva e então mais para desconcertá-lo do que para ser honesta, ela disse que gostava de ficção auto destrutiva. Ele arregalou os olhos. Há aqueles que não fazem mesmo a menor idéia de que o passado não morre, mas fica distante e essa distância facilita o processo da mudança. Não vamos nem falar do crescimento. Sam trabalhava na gigante do varejo francesa e não falava francês. Ela sorriu e Sam quis saber o motivo. Un, duex, trois, quatre, cinq. Bonjour, bonsoir, merci, s'il vous plait... Ficou surpreso e disse 'ahn, você fala, hein?' Respondeu que não, que aquilo era o básico do básico. Ele estava apaixonado, aparentemente. Trabalhando para os franceses sem falar francês. Alguém já o definira como contraditório, com outra palavra mais elaborada. Sam a tratava como se ainda tivesse uns 19 anos, por aí. De novo como se o passado não tivesse ficado lá trás, como se não fosse distante todos os anos que os separavam e ignorando que a distância nos separa fatalmente daquilo que éramos do que somos. Era muito gentil, gentil demais, gentileza exagerada também enquanto faziam sexo. O que ela gostava, mas só as vezes.
De repente se arrependeu de se interessar, disse que bastava, elogiou-a (acusou-a) de ter uma mente fértil e que estava começando a ter ciumes, de alguém fictício. Ironia. Encerraram o papo, ele saiu correndo de medo, de raiva, de alívio, de felicidade ou de ódio. Não deu para saber. Nunca mais se falaram desde então.
De repente se arrependeu de se interessar, disse que bastava, elogiou-a (acusou-a) de ter uma mente fértil e que estava começando a ter ciumes, de alguém fictício. Ironia. Encerraram o papo, ele saiu correndo de medo, de raiva, de alívio, de felicidade ou de ódio. Não deu para saber. Nunca mais se falaram desde então.